E lá do alto, eu amanheci minha aurora.
sexta-feira, 29 de junho de 2012
O que você me deu.
"Um homem é velho e está sentado sobre o seu analfabetismo. No entanto, escreve sobre um jardim. Palavras que, desconhecendo, o tornam belo pela pequena tesoura minuciosa com que apara as flores que as compõem. Um homem velho, suado na velha camiseta, vai, assim, perfumando a escrita. Pergunto-lhe: Que escreve? Flores, é como me responde curvado até aos enrugados dedos acariciando as palavras que vão crescendo. Fico ali, parado, olhando-o do analfabeto que agora sou.
Eduardo White, no livro "Até amanhã coração", 2007.
Um homem escreve flores e cores e perfumes, sentado e descalço e dentro da pobreza que veste. Fantástico, penso, este velho que alguma magia certamente o tem cantado por dentro. E as flores riem, pequenas e verdes e brancas e por um vermelho que lhes foge pelo bordo das folhas. Eu adapto-as, diz-me ele. Não percebo, respondo-lhe. Eu adapto estas flores a estas letras porque não são próprias para as palavras. São tenras e, sendo assim, os insectos comem a minha escrita.
Sou o profundo espanto. Um homem escrevendo com flores e insectos comendo o que fica tão ternamente escrito nelas. Ele percebe este susto que revela, admirado, o meu rosto. Escrevo com flores faz muitos anos, mas nunca soube ler. Diz-me. Só mesmo as flores é que eu consigo entender. E um riso desce, então, pela boca do velho dobrado pela hérnia discal que agora noto e vem cumprimentar-me a mão com que eu redijo no computador. Não flores como eu gostaria que fosse, mas a ignorância total e a absoluta certeza de que jamais o saberei fazer.
Ao nosso lado, uma criança abre a janela de sua casa e grita: Bom dia galinhas, enquanto um galo canta arrebatador agradecendo o cumprimento. Que lugar será este donde vejo tudo isto?"Eduardo White, no livro "Até amanhã coração", 2007.
terça-feira, 26 de junho de 2012
“Eu olhava esse menino, com um prazer de companhia, como nunca por ninguém eu não tinha sentido. Achava que ele era muito diferente, gostei daquelas finas feições, a voz mesma, muito leve, muito aprazível. Porque ele falava sem mudança, nem intenção, sem sobêjo de esforço, fazia de conversar uma conversinha adulta e antiga. Fui recebendo em mim um desejo que ele não fosse mais embora, mas ficasse, sobre as horas, e assim como estava sendo, sem parolagem miúda, sem brincadeira— só meu companheiro amigo desconhecido.[...] Mas eu aguentei o aque do olhar dele. Aqueles olhos então foram ficando bons, retomando brilho. E o menino pôs a mão na minha. Encostava e ficava fazendo parte melhor da minha pele, no profundo, désse as minhas carnes alguma coisa. “
João Guimarães Rosa
João Guimarães Rosa
quinta-feira, 21 de junho de 2012
quarta-feira, 20 de junho de 2012
terça-feira, 19 de junho de 2012
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Você não tem como chegar até aqui, a não ser que eu abra a porta para ti.
E qual foram as portas que eu já abri? Quais você já carregava as chaves junto as suas?
E mesmo que a minha cabeça esteja seguindo as luzes que vem de você, aquelas lá no céu, meus pés estão no chão, no teu chão. Ainda no chão daquela mesma sala.
Você em destaque fica bem, fica na forma em que você melhor se encaixava um dia no meu desejo agora em aberto.
Segura eu me sentia, apenas em tuas últimas palavras.
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